quinta-feira, 27 de maio de 2010

Descanso na luz


Na escuridão já se vestia de alva luz
Compunha seus cabelos de cor de prata
Deitava os olhos ao que na vida a seduz
Dormia acordada com seu doar, grata.

Soltei-lhe um beijo, de mãe e de filha
Na cor do sono que por mim passeava
Sonhei um descanso como serena ilha
Sabendo a pureza que me enlaçava.

Faço uma pausa, olhando a vidraça
Caiu-me uma pétala de luz negaça
Que me atraiu e com ela me fez dançar...

Já não sei se a dormir, se a acordar
Na sua protecção me senti rodopiar
E bebi do mar, da sua gentil graça!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Às vezes



Às vezes corro pelo meu mundo aceso
Numa dor que afasta todo o medo
E cinge a tua ausência num gesto preso
Sem despertar do nosso segredo...
E falo, falo sem termo nem medida
Para a solidão interior da longa avenida
Que é o recanto da alma, minha guarida...
Às vezes palmilho léguas dentro de mim
Tantas vezes presa a um frenesim
Que teço e transformo em sedoso cetim...
E conto as longas esperas, nas esferas
Labirintos em que me embrulho na saudade
E paira por dentro, naquele gesto da verdade
Que traduz a monotonia das minhas esperas...
Às vezes já não sei, se era eu que te lembrava
Se és tu, que já me esqueces e nada te recordava...
Às vezes penso, que só às vezes tenho a sensação
Que ao olhar o rosto de um estranho vazio
Encontro quase cem anos de vida, presa por um fio...
Às vezes...sabes?! Em Lisboa vejo o Tejo
Vejo as pessoas todas em sério e sombrio cortejo
Subo as calçadas das ruelas antigas
Desço jardins com janelas floridas...
E penso: (só às vezes!) onde guardaste aquele coração
Que nunca mais eu vi em nenhum corpo, desde então?!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Chuva


Cada gotinha tua é um verso de cristal
Lavas e perfumas a terra do teu quintal
E prometes deixar tudo com ar cerimonial!

És quem abençoa a vida pelo caminho
Vou deitar-me em ti, qual lençol de linho...

Mas não demores muito a limpeza
Que o sol também quer vir na sua certeza
E eu quero sentar-me com ele à sua mesa!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Asas

Com minha mão a tremelicar os passaritos a desenhar...

Pardalitos a trinar, por entre as árvores
Num som bem caprichado e tão repetido
Como se a Primavera lhes doasse ares
No seu andar tão apaixonado e cerzido

Ouvir sua sinfonia, como é certeza
Que lhes envia a apaixonada Natureza
Um passo de mansinho pelo tempo
Se ouve em balada de pedido alento

Vem pardalito, vem pousar à minha beira
Quero beber de ti esse teu rodopiar
E bordar minha vida com teu estar...

Vem que eu quero aprender a voar
Ter na asa, cantiga assim feiticeira
E namorar como tu, no trigo de uma eira!