sábado, 27 de novembro de 2010

Palavra...



No virar da esquina do céu
na bainha da maré com azul por véu
enfeitada por flor em serra erguida
junto ao ventre de gente querida
espreita como está o mundo
lá longe num infinito sem fundo
e num livro de sonhos escondida
dentro de uma frase esquecida
sem ter um ponto final
apenas numa vírgula pontual
numa página de livro, a passar
que leva seu tempo a virar
arejando as velas em desalento
que passeiam na brisa do vento
com alminha de velho alento
mimando-se feito palavra
só em sonho sua vida se lavra...

Aguarda com desfolhar, de sal de água
com o corpo cheio de mágoa...

Antiga varina no cais da ribeira apregoa
Ai Lisboa, Lisboa, Lisboa...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tum...tum...tum...


Ouves o murmúrio do silêncio enquanto pensa?
Não? Experimenta fechar os olhos na sua presença...
Agora respira fundo o cheiro de uma flor
E expira um sopro, bailando o pavio da vela
E respira de novo...um incenso de cor amarela...
Vá escuta agora o silêncio...a música em suave tambor
Cadenciada como se fora um tum...tum...tum...
Que se sente rubro calor e não faz barulho nenhum...
E experimenta usar o violeta, o azul celeste...
E todas as cores que o Universo veste...
Vês?! Não custa nada...e quanta paz de que és capaz...
Não, não te distraias...continua a cheirar a flor
Soprando algures, com a brisa a vela do teu interior
Descobre como no silêncio, a música é tão bela
E como podes rodopiar, dançando com ela...

Ah! Quem dera que pudesses ouvir todo mundo desta maneira
E com o sopro do teu silêncio, apagasses a dor da vida inteira...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Rio de quimeras



Que dia este que nasceu tão sombrio
Em que as águas calmas de um rio
Lançam ao pensar um desafio:
- Vem ver o meu curso de água
Vê por onde passa a minha mágoa
Vê como precisam de mim, alvas penas
Entre os remoinhos lembrando açucenas...
As lágrimas que me deixas quando abalas
No meu caudal são casas, sem salas
Num campo aberto de limão capim
Erva cidreira, num regato de jardim
Matam sede, matam fome
E plantinha também dorme
Deixando cheirinho bom a alecrim...
- Ah, rio em quimera na tua corrente
Falas para mim, como se foras gente
Vou dizer ao sol p`ra te vir beijar
Quero nas tuas águas contigo bailar...
E o dia tão sombrio?!
Fez-se luz connosco a brincar!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Luz no olhar


Os olhos embaciados pela manhã
tendo na luz um efeito de cor sã
num despertar meio ansioso
pelo respirar de dia caprichoso
correndo vida em ar de lenda
como se bailasse em fenda
de um vulcão em plena erupção
onde arde em lava o coração
que procura no seu caminho
a leveza do tic-tac de carinho
percorrendo na imensa multidão
o desejado calor de outra mão...

Tantos que encontras no destino
espetados pela dor de qual espinho
e por vezes esmorecem devagarinho
gelados no meio da lava, sem tino...

Ah, olhos de coração...inventas tua condição
recordas que o dia ainda agora começou
e até à noite, a luz bafejará a tua absolvição!