quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Porquê






Perguntei ao Menino
Porque se bordavam as marés
Porque fazia parecer um hino
Aquele vento, voando em aloés
Porque a montanha era alta
E no vale, a planície se estendia
Porque a lebre na floresta salta
E o caracol no verde se recolhia
Perguntei porque havia luar
E porque era o sol escaldante
Porque havia fontes, no rio a nadar
E porque trazia azul, o céu errante?...

Perguntei porque voavam asas
Porque golfinho tinha sonar
Porque pobres não tinham casas
E outros as tinham a sobejar...
Diz Menino, porque nasceste Tu pobre
E além a guerra se move, tão ligeira
Onde só a manta de natal a encobre
Diz porque existe o deserto e a toupeira
Porque existe pinguim, naquele frio vadio
Contrário ao calor, do gato na braseira
E tantos dançam pendurados por um fio
Porquê diz Menino, a Vida parecer desafio?...

De tanta pergunta que eu lhe fiz
Ele só ternamente olhava, sorria
E num pergaminho com a flor-de-lis
Uma aurora rendada me estendia...
E nada me disse, mas eu senti...
Na pauta escrita a letra dourada
O Coração da Vida, morava ali:
AMOR a única resposta, chave da morada
Não importa a pergunta na porta que abras
A estrela d`alva só será luzente e presente
AMOR que seja ungido nos actos, palavras
Factos, nos dias de ontem, hoje e sempre!...

Aurora, natal de pergaminho que enrolei
E debaixo do meu travesseiro deixei...
E sabem? Mais perguntas, não farei!!...

(Natal 2015)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Preces




Que sensação interior
Vem no respirar do meu regaço
Que estado parado e sem cor
Tão frio, tão dormente, desenhado a fraco
compasso...
No leito da alma as noites quentes, são frias
E mesmo nas paredes de cor doce
As cobertas da cama, mesmo macias
Tanto coração pede ao menos num minuto
serenidade só, fosse...
Mas a Natureza da Vida é de ciclos
E tem momentos que trazem surpresas
E tem massacres, fins cíclicos
Deixa que seres humanos sejam
represas...
Na história dos homens tanta semelhança
E se matam ideais com ufanos punhais
Sejam armas, ou palavras de lança
O mundo inteiro está sujo e de actos de
bárbaros sinais...
Talvez eu não saiba pronunciar
Que este desamor é um espaço sem cor
O coração deixa simplesmente de pulsar
Perecendo, vira o mundo uma máquina
sem o motor do Amor...
Por favor não deixem a crueldade vingar
Por favor estendam de fraternidade as mãos
Amor única verdade, que sabe a Vida guardar!...
E na cama macia em prece aos céus, sonho meu
Um grito afogado - afaguem-se, sejam irmãos!...



(23/11/2015)

sábado, 31 de outubro de 2015

Outono





Tão sereno está o ar no movimento
Nem a brisa me toca com seu manto
Estou sonolenta sem alma em lamento
E com o outono na bainha do encanto
Vai o meu sonho bordando um corpete
Com linhas de chuva miudinha
E alinhavando o que em mim se repete
A mansidão do tecido, na ladainha
De um estar que o tempo me promete
Um aconchego de pura lã, branquinha

E reparo então que não estou sozinha
Alguém borda também a sua veste
Se encanta com o silêncio que acarinha
E chuleia a ponto cruz bainha silvestre
E vai no amarelo, o castanho misturado
Com o rosa do sonho de princesa
E se junta um azul, menino raiado
Na quietude de um som da natureza
E nas cores que o silêncio fala embriagado
Nasce cinzento, despe o corpo e é nudeza!

domingo, 27 de setembro de 2015

Depois da Vida





No ciclo da mãe em tom dourado
A folha separa-se do corpo amado
E vai serenamente pousar na seiva
Outono, que a acolhe como noiva
E na alma da cor que se solta
Vai o colorido da paz envolta
Pousando no céu feito nuvem
Espera metamorfose que vem
Depois das chuvas, luz vera
E um sopro de novo se esmera
E a folha une-se graciosa
Num novo ciclo, verde e airosa...

Assim é o amor da vida que nos enlaça
Na mudança que surge no velho Tempo
Por nós nasce, por nós vive, por nós passa...

Um dia depois da vida, outra vida
Pneuma terá de novo, outra guarida!...